26 de dezembro de 2008

O Pulo

Mãe falando para o filho de três anos de idade que, sentado à beira da piscina, debaixo de um sol de trinta e três graus, no auge do meio do dia, jogara-se então para dentro da dela, que, por sua vez, gozava de uma profundidade vastamente maior à altura da ingênua criatura.

- É por isso que eu falei para não se jogar na piscina! É por isso! Tá vendo o que aconteceu? Tá vendo? Você me ouça da próxima vez! Porque aqui é fundo, e você não chega até lá, você não pode pisar lá embaixo. Quer pisar? Quer ver se você consegue? Pula! Vai, pula de novo para você ver se consegue tocar o fundo! Pula! Porque você não consegue! Sabe o que acontece se você pula dentro? Você morre! Você vai morrer, e nunca mais você vai poder falar com ninguém. Nunca! Vai! Pule!

O menino ficou ali, olhando par a água cristalina e para o maiô da mãe que não reconhecia. Estendeu a mão para a mãe, mas ela não a acolheu.

- Eu morro de medo com você, sabia? Morro de medo.

Ficou, o menino, olhando par a água. Passaram-se segundos, minutos - trinta e sete para ser mais preciso, mas ele não sabia. Claro.
A mãe continuou a falar com a sua amiga, e o menino, sob o sol de meio dia, brincou mais um pouco com seu carrinho de plástico flutuante.
Chegando à noite a mãe quis lhe dar sua comida rotineira, mas o menino não comeu. Tentou lhe dar um pouco d água, mas ele não bebeu. No dia seguinte, o menino ainda não aceitara nada de comer nem beber, e a desesperada mãe chamou o médico, que logo constatou uma desidratação avançada. A mãe explicou que o menino não aceitara nenhuma gota de liquido desde o dia anterior e o médico, ao perceber a gravidade da situação, sugeriu uma internação imediata. Todos os cuidados necessários foram lhe dados, mas o menino não aceitou nenhum incentivo para comer ou beber. Foi chamada a enfermeira mais experiente do bairro, já que o caso ficava mais grave pelo minuto. Não teve jeito. Foi preciso uma intervenção intravenosa com soro. Durante duas semanas, o menino foi alimentado assim, via saquinho de plástico, liquido, tubo, agulha, veia. Seu corpo ia esvaecendo, lentamente, emagrecendo e ficando cada vez mais esdrúxulo. O olhar, no entanto, não mudara desde o incidente da piscina. Fechando o mês e depois de muita insistência e vários tratamentos, o menino morreu às deis e meia da manhã.
A mãe zelosa, desde o começo tivera toda a razão. O menino havia dado um salto para algum lugar e depois de sua morte, ninguém reportou nenhum tipo de comunicação com ele. Nunca.

2 comentários:

Unknown disse...

Ai...
achei que eu ia me mijar de rir no início: pula, pula!!!... que reviravolta.

fabio menezes disse...

Fóda!
Tiste realidade da maioria de nós!
Liberdade ee o principio de tudo!
Adoro tua escrita, inteligente...sagaz, surpreende, prende,comunica,imagética,protesta...

Só coisa boa pra ti!
Sorte!
abs