21 de maio de 2008

Você existe.
Sim. Estou aqui, não estou? Ele respondeu.
Então...
Não, não é bem como você queria, mas mesmo assim aconteceu, ele confirmou com um olhar tranqüilo. E ela deixou de perguntar, por que pressentiu que qualquer palavra, além do que devia ser dito, seria um tiro vazio em busca de algo que, talvez, pelas palavras dele, não existisse mais.
Ele quis cantar algo para ela, mas veio-lhe uma dúvida, e soube que esta não poderia ter vindo em momento menos propicio. Às margens do olhar dela, ele carregava-se de coragem para semear uma nota no ar verde esfumaçado de lua crescente. Mas sabia que, no momento dele parir a nota, ela pressentiria que o canto se esvaeceria junto com a sua existência, porque o canto era dela, e ele apenas queria aprender a sua língua.
Mesmo assim, ele cantou, e na periferia do olhar dela, ele deixou de existir. Mas outros logradouros começaram a fervilhar dentro da fêmea, e ela, que cantava tão facilmente quanto respirava, esqueceu que nota viria depois de sua risada habitual.
Deixaram de existir então, como eram.
Apenas para aprender a ser de outra maneira.
E a lua bebeu o café que estava finalmente pronto.


Direitos Autorais Registrados

Nenhum comentário: